Da arte política de definir candidatos à sucessão

Ciro Gomes e Tasso Jereissati: criatura e criador, que marcaram uma geração de políticos/  INSTITUTO QUEIROZ JEREISSATI/DIVULGAÇÃO

Escolher a cabeça de chapa para uma disputa majoritária é um divisor de águas de qualquer grupo político. Pode dar certo, com sucesso nas urnas e boas surpresas administrativas, ou dar errado, resultando em fiasco eleitoral e desgastes. O Ceará é pródigo em exemplos de ambos os lados. Por aqui, tivemos Ciro Gomes, a melhor e maior cria do então jovem governador Tasso Jereissati. E só. O PSDB nunca passou perto de repetir o feito, limitando-se a vitórias pontuais, atribuídas mais às qualidades pessoais do hoje senador da República do que ao surgimento de novos quadros – o histórico, inclusive, pé-de-barro do tucanato cearense.

Substituto do tassismo na hegemonia política no Estado, o cirismo acertou muito mais. A começar pelos dois irmãos mais novos – Cid e Ivo – testados e aprovados nas urnas, parlamentos e gestões. O diferencial da família Ferreira Gomes, entretanto, está na capacidade de ampliação dos quadros, para além do próprio sobrenome. Nas últimas duas décadas e meia, outras famílias, grupos e talentos individuais foram agregados – alguns, ungidos. Participando do núcleo ou orbitando, fizeram carreira pública. De lá para cá, foram quatro vitórias para governador, três para a Prefeitura de Fortaleza, várias vagas de senador e dezenas de prefeitos e parlamentares.

Faro, audição e instinto
Há uma lista de variáveis que interferem tanto na vitória ou derrota de um nome escolhido por um grupo político quanto no sucesso ou fracasso da gestão, propriamente. Mas chegar ao nome é decisivo. No mundo artístico, o feeling do caça-talentos é fundamental; o olheiro no futebol pode definir quem será o craque do próximo campeonato; as passarelas e seu peculiar glamour são impensáveis sem os scouters. Em cada área esse tipo de perfil recebe um apelido diferente. Na política, são o faro fino, a boa audição e o instinto de sobrevivência do animal político.

A pós-verdade de Pazuello
Vivemos tempos em que a famigerada narrativa, aos poucos, vai tomando o lugar do factível, daquilo que é passível de provas. Grosso modo, é a pós-verdade, convenientemente subjetiva, líquida, fluída, ajustável e com versões alternativas e, propositalmente, confusas. Na síntese, foi o que aconteceu em dois dias de depoimento do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

No país da dislexia
A terceira semana da CPI da Covid pode até não ter avançado sobre a elucidação de possíveis ações e omissões que trouxeram o Brasil à atual e dantesca situação. Mas deu claras pistas de por que o governo Bolsonaro parece disléxico: o conjunto dos depoimentos remete a uma gestão formada de ilhas administrativas, dominadas por burocratas, quando o País é um continente.

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