Com Lira e Pacheco como aliados, Bolsonaro não precisa de adversários

Em meio a um turbilhão de desgastes do governo e da figura pública de Jair Bolsonaro, o Brasil assiste a movimentos no Congresso Nacional que, no conjunto da obra, encurralam ainda mais o mandatário no canto do ringue. Controladas pelo centrão, as cúpulas do Senado e Câmara dos Deputados operam para tirar o máximo de proveito da situação. No salão azul, o presidente Rodrigo Pacheco – ainda no DEM, mas de olho no PSD de Gilberto Kassab -, fez vazar que é pré-candidato ao Planalto. Para o bom entendedor, o recado é direto: sem plataforma consistente para 2022, o grupo vai cantar noutra freguesia, com candidatura própria ou não.

Do outro lado, no salão verde, o presidente Arthur Lira (PP-AL) deixou fluir, na reta final do semestre legislativo, a articulação que resultou na aprovação do escandaloso fundão eleitoral. Poucos dias depois, soltou que seria possível a adoção no Brasil do chamado semipresidencialismo. No primeiro caso, o pepelista jogou no colo do presidente o ônus de vetar ou justificar R$ 5,7 bilhões para serem torrados pelos partidos políticos no ano que vem. No segundo, agiu quase como um golpista parlamentar, uma vez que no formato que defende, o chefe de governo sairia do próprio Congresso. Ou seja, com Pacheco de um lado e Lira do outro, quem precisa de adversário?

Os ciclos de poder no Ceará
Há vários modelos pelos quais os ciclos de poder se fecham. No Ceará, nas últimas décadas, o mais frequente tem sido a partir de dissidências. O caso mais conhecido deu-se em 2006, quando o ex-prefeito de Sobral, Cid Gomes, então no PPS, chegou ao governo do Estado, derrotando o PSDB, de que fora aliado durante extenso período. Não é fácil esse movimento de tentar sair de coadjuvante para protagonista. Muitos grupos tentam. Poucos conseguem. Na maioria das vezes, porque não têm a necessária liderança nem o faro do timing.

O velho filme que poderá ser reprisado
Além de ser moralmente indefensável, o bilionário fundo eleitoral remete a política para a mistura sempre delicada de vida pública com dinheiro. Com tantos recursos do contribuinte à disposição, não será surpresa partidos incharem listas de candidatos, com muitas postulações laranjas, com o objetivo de beneficiar os controladores das legendas. Filme velho.

Bolsonarismo sobreviverá a Bolsonaro
Presidente Bolsonaro segue como biruta de aeroporto. Ora diz que poderá não disputar reeleição, na hipótese de não haver sistema auditável na votação, ora investe em atitudes e falas populistas, como que se organizando para a disputa. Independentemente disso, o espectro de ideias vai disputar o poder no ano que vem. O bolsonarismo sobreviverá a Bolsonaro.

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