Como o “risco comunista” pode alimentar o bolsonarismo 

Bolsonaro associa comunismo ao PT / Reprodução

A pesquisa Ipec, mostrando que 44% acreditam que o Brasil corre o risco de virar um país comunista, traz um subtexto igualmente relevante. Vejamos:

Segundo o instituto, os índices são mais fortes nas regiões Norte e Centro-Oeste (47%) e Sudeste (48%).

Já entre os evangélicos, 57% dizem acreditar, no todo ou em parte, que o risco é real. Entre católicos, a percepção chega a 39%.

A estratificação deixa claro que o lulopetismo é, diretamente, associado ao comunismo.

Isso ajuda a entender porque a relação do grupo com o mercado – o mais severo contraponto ao comunismo – sempre foi de desconfiança mútua.

Narrativa bolsonarista
Não por menos, Jair Bolsonaro chegou ao poder, em 2018, a partir do antipetismo e antilulismo, que tinham, inexoravelmente, o comunismo como base de sua narrativa.

Por convicção ideológica ou estratégia política, o PT de Lula nunca se esforçou para se afastar da pecha, como mostra a simpatia por sistemas autoritários mundo afora.

Vendido como “risco” pelo bolsonarismo, a ideia de comunismo no Brasil é muito mais um mantra da anti esquerda do que um conceito de domínio público.

Num jogo onde não há ingênuo, misturam-se fragmentos do que seria comunismo a convenientes filtros e envelopa-se tudo, para ser entregue ao grande público.

Provavelmente, muitos citam o risco sem, necessariamente, saber de que risco se trata. Infelizmente, é assim que tem funcionado o debate político nacional.

Flertes e dogmas
Em segmentos da opinião pública mediana nacional, no entanto, é corrente a avaliação de que o projeto liderado por Lula flerta com o sistema comunista.

Para embasar a avaliação, invariavelmente são citados dogmas dos governos petistas que passam longe do que seriam conceitos neoliberais.

Na lista entram o gigantismo do Estado, o domínio de quadros na máquina pública, o assistencialismo populista e o apoio ao MST.

Fator militar
Em meio a tudo isso, o governo Lula segue na saga de tentar desmilitarizar o governo, fartamente ocupado pela turma verde-oliva nos últimos quatro anos.

Há, claro, outros motivos para que isso esteja sendo feito.

Contudo e sem entrar no mérito, os que acreditam no risco comunista no Brasil sob Lula e o PT costumam lembrar que o golpe de 64 foi, a rigor, uma reação ao comunismo.

Ou seja: nessa perspectiva, a pesquisa Ipec sinaliza que o “risco comunista” pode seguir alimentando o bolsonarismo no Brasil.

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