A volatilidade do poder e as lições da CPI da Covid

Em química e física, volátil é, basicamente, a propriedade que uma substância tem de dissipar-se, na  forma de vapor ou gás. Em quase todas as vezes, assim é o poder. Com pequenas variações de temperatura, pressão, espaço e tempo, o controle esvai-se entre os dedos. Sendo o tempo, inclusive, a variável mais formidável da perda dessa enganosa sensação de que se está no controle. Tudo isso, num piscar de olhos. CPI da Covid. Quem é agora o então todo-poderoso secretário das Comunicações, Fábio Wajngarten, quem há até poucos meses ou semanas, da ponta de mesa em sala ampla, bem decorada e rodeada dos seus, dava aula de imprensa a chefes de chefes de redação?

Como se apresenta, nos dias de hoje, o à época chanceler Ernesto Araújo, que passava pito em embaixadores do Brasil mundo afora, numa ofensiva bestial nunca vista na histórica cordial diplomacia brasileira ? Ou como deve se sentir o hoje fujão, ex-homem forte da Saúde, Eduardo Pazuello, que tantas vezes abandonou noções de educação pessoal e dever institucional, afora a incompetência na área, para trilhar a selva da brutalidade em entrevistas coletivas? A resposta, simples, que une os três personagens acima, Wajngarten, Araújo e Pazuello: no banco das testemunhas, são fantasmas do que já foram, que mais assustam a si mesmos e a seus ex-chefes.

Com dia e hora marcada
Na semana passada, o experiente senador Omar Aziz (PSD-AM) desceu da condição de presidente da CPI da Covid e deu um conselho ao dissimulado depoente Wajngarten. Em síntese, disse que não compensa para o ex-comunicação do Planalto proteger, em negativas ou evasivas, quem quer que fosse. Os poderosos de hoje, lembrou o ex-governador do Amazonas, têm data para deixarem o controle – não importa como. Isso vale para quem está no topo do mundo, do Brasil, de governos estaduais ou municipais. Na vida pública democrática, é assim que funciona.

Relações para além da covid
A senadora Kátia Abreu (PP-TO) teria fugido ao escopo da CPI, ao tratorar Ernesto Araújo, nesta terça, focando no desmantelo diplomático geral do ex-chanceler com a China – principal parceira comercial do Brasil. Olhando de perto, entretanto, a boa representante do agronegócio nacional dimensionou nossa tragédia, para além dos números da covid.

Jornalismo, esgrima e bolha
Profissionais de imprensa – aqui e alhures – estão prestes a protocolar pedidos de beatificação de políticos que admiram. Esgrimistas da palavra, não hesitam em montar trincheiras em nome de convicções pessoais de bolha – não importando o contraditório e demais preceitos jornalísticos. Lamentável. Isso vale tanto para os polos quanto para a turma do meio.

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