A parte de cada um no latifúndio da tragédia em Brasília

Poderes da República foram vandalizados / Marcelo Camargo / Agência Brasil

Eventos de larga repercussão sempre são multifatoriais. O raciocínio clássico é muito usado em quedas de avião – mas também serve para fatos políticos relevantes.

Se fatiados em causas, dos atos extremistas deste domingo (7), na Capital Federal, derivariam responsabilidades de vários entes e personagens.

O mais visível, até aqui, é o afastado governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Por baixo, foi omisso. Num cenário ruim para ele, cometeu dolo.

Ao hoje ex-secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, cabe culpa pelo laissez-faire bolsonarista. A inanição dele pode chegar a cumplicidade.

Jair Bolsonaro (PL) é outro que deverá responder, juridicamente, a depender da comprovação de participação dele, direto ou indiretamente, nos atos extremistas.

O ex-presidente da República está autoexilado na Terra do Mickey Mouse. Hospedado na casa de um ex-lutador de MMA, dificilmente sairá sem hematomas políticos.

A inteligência do Estado brasileiro também passou grande vexame. Como efeito dominó, foram caindo cada barreira de alerta, advertência e prevenção.

Tanto isso é fato que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava em agenda no interior de São Paulo, quanto a Capital da República estava sob ataque.

Com exceções, integrantes das cúpulas dos Três Poderes seguiam uma típica programação de domingo, enquanto seus gabinetes eram revirados.

Supremo
Também há um quinhão para o STF.  E quem diz isso é ninguém menos do que o ministro aposentado Marco Aurélio Mello.

Aspas do ex-decano da Corte: “Falhou todo mundo, e começou a falha no próprio STF, quando ressuscitaram politicamente o ex-presidente Lula, dando o dito pelo não dito”.

Mais de Marco Aurélio: “quando enterraram a Lava Jato, quando declararam a suspeição do Sergio Moro”.

As declarações estão no O Globo. Entrevista aqui bit.ly/3ir5aYc.

Por óbvio, são falas contundentes – e polêmicas -, mas que ajudam a entender o macro do que está acontecendo no País.

As palavras do ministro aposentado são deste domingo. Entretanto, as urnas de outubro já tinham antecipado o cenário.

Como? Ora, quando o eleitorado, em sua maioria, disse “não” a Bolsonaro. Para lembrar: foi a alta rejeição do então presidente que abriu espaço para Lula voltar.

E, como se sabe, Lula não ganhou por méritos próprios.

O petista foi vitorioso porque ganhou a gincana da rejeição, embora também sofresse – e ainda sofra -, com o problema, mesmo depois de empossado.

Consequências
Vandalismo é crime e deve ser tratado como tal. O império da lei e da democracia devem prevalecer. Sempre.

Dito isso, o Brasil precisa compreender melhor as raízes e motivações do que vem acontecendo. Eis a tarefa de todos.

Inclusive de setores da imprensa – de qualquer lado que seja -, que vêm agindo com gosto de sangue na boca.

Decisões têm consequências. Não encarar seus efeitos borboleta é marcar encontro com eventos futuros, ainda mais danosos.

A nação brasileira está febril. Vamos seguir fingindo que um antitérmico vai resolver?

Voltando à mesma entrevista de Marco Aurélio Mello: “O que começa errado, nós aprendemos quando garotos, não acaba bem”.

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