Lula e a pacificação política do Brasil

Episódios recentes podem ter decidido eleição / Reprodução

A maioria dos eleitores disse “não” à continuidade do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O atual mandatário entra para a história brasileira como o único a não se reeleger.

Desorganizado, beligerante e com tendência à auto combustão, foi superado pelo recorte de memória emocional dos anos áureos do PT no poder.

Vitoriosa, a frente democrática liderada pelo presidente eleito vai pegar um País dividido, na mais acirrada, tensa e dura disputa eleitoral.

A euforia é proporcional à ansiedade. Vale, portanto, a comemoração.

Mas, há muito trabalho pela frente. Não somente na economia, que chega em 2023 com muitas bombas armadas.

A principal tarefa do próximo governo será pacificar o Brasil. Ou, sendo impossível, pelo menos produzir um ambiente minimamente respirável.

Do jeito que chegamos até aqui, será impossível prosseguir. Não será fácil. O novo Congresso Nacional será uma pedreira.

O tarimbado Lula sabe disso. Entende, também, que vai precisar de muita força da sociedade civil.

Foi essa a principal mensagem, para além dos resultados das urnas deste domingo histórico. Foi para isso que o Brasil votou. Foi por isso que derrotou Bolsonaro.

Bolsonarismo versus Bolsonaro
Muitos apoiadores do atual presidente da República cometeram muitos erros, quando não havia espaço para isso.

Lula, que esperava vencer no 1º turno, viu a diferença se estreitar ontem, no resultado final.

Mas quem precisa de adversário quando se tem por perto Roberto Jefferson, Carla Zambelli e Paulo Guedes?

Quem precisa de discurso antibolsonarista quando há os casos de Foz do Iguaçu e Paraisópolis?

Parte dos indecisos foi votar assustada. Foi aí onde faltaram os votos de ontem.

Nasce uma nova elite política
O PT volta a ser o eixo principal do jogo do poder, mas outras forças políticas nacionais estão bem distribuídas na geografia do País.

Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Romeu Zema (Novo-MG) são nomes para se ficar de olho. Por eles devem passar parte do contraponto ao petismo.

A propósito, a Bahia, com Jerônimo Rodrigues (PT) eleito governador, segue como o mais importante estado brasileiro administrado pelo partido do presidente da República, liderando o Nordeste, que continua reduto do lulopetismo.

Próxima batalha
Um dos primeiros a se manifestar, depois do resultado que deu vitória a Lula, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), deverá entrar na disputa para seguir comandando a Casa.

No Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) não terá vida fácil, caso decida fazer o mesmo. O novo governo vai entrar de cabeça nas duas batalhas.

Tebet e Ciro
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) foi derrotada no 1º turno, mas é uma das vencedoras das eleições de 2022. Não será surpresa se ela trocar o Senado pela Esplanada dos Ministérios.

Já Ciro Gomes (PDT-CE) enfrentará o processo de depuração, que seu grupo político produziu. Particularmente, no Ceará, já que, em nível nacional, o PDT embarcou no lulismo.

O País depois de Lula e de Bolsonaro
Até por imposição da idade – ele tem 77 anos –, o presidente eleito neste domingo não disputará a reeleição, em 2026.

Por óbvio, não tardará para que as placas tectônicas do Palácio do Planalto comecem a se mover, de olho na sucessão do petista.

Engana-se quem imagina que o vice, Geraldo Alckmin (PSB) parta com alguma vantagem.

Do outro lado, deverá haver disputa pelo espólio político de Jair Bolsonaro (PL) – a depender da disposição do presidente derrotado em seguir liderando.

Virou lugar comum dizer que o bolsonarismo seguirá, independentemente do resultado eleitoral.

Mas isso não acontecerá com geração espontânea. Alguém terá de emprestar um rosto e um nome.

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