Quando a derrota moral é pior do que a derrota eleitoral

O Brasil e o mundo aguardam fala de Bolsonaro / Tomaz Silva/Agência Brasil

Dois dias depois do resultado eleitoral que deu vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Brasil segue numa encruzilhada política.

Não, exatamente, pelo resultado apertado. Pela regra, a vitória acontece quando o concorrente alcança 50% mais um dos votos. O restante é sobra.

Portanto, temos um novo presidente da República eleito, muito bem referendado dentro e fora do Brasil e pronto para começar a transição.

A questão da divisão que persiste é mais política. E nem poderia ser diferente, dadas as circunstâncias que nos trouxeram até aqui.

Mas a tensão que transbordou o anúncio do resultado não é, necessariamente, ruim para o grupo que começa a se organizar para assumir.

O silêncio do presidente derrotado, os crimes cometidos por caminhoneiros Brasil afora e outras atitudes reprováveis tendem a murchar a bolha bolsonarista.

O motivo
Ninguém nunca saberá. Mas, como aqui já foi dito, foi, provavelmente, o bolsonarismo que derrotou Bolsonaro. E segue derrotando.

Antes do dia da votação, tivemos os casos Roberto Jefferson, Carla Zambelli, Paulo Guedes, Paraisópolis, Foz do Iguaçu, entre muitos outros.

Agora, depois do resultado, caminhoneiros bloqueiam rodovias, a Praça dos Três Poderes, em Brasília, está cercada e voos em aeroportos já são impactados.

A atuação da Polícia Rodoviária Federal, a antes gloriosa PRF, é um episódio à parte. A vergonhosa atuação da corporação começou no final de semana e segue digna de polícia política.

Ao não falar à nação, Bolsonaro sopra seu apito de cachorro, numa espécie de versão tupiniquim do que aconteceu nos Estados Unidos após a derrota de Donald Trump.

Entretanto, assim como lá, tudo que vem acontecendo no Brasil pós-30 de outubro poderá cair na conta da extrema direita, liderada pelo ex-capitão.

Tamanho real
O bolsonarismo continuará significante. Porém, bem menor do que aquele que se expressou nas urnas, no último domingo. Voltará a seu tamanho real.

O movimento e ideário seguirão uma máquina difícil de desmontar, como reconhece a maioria. No entanto, parte do trabalho já está sendo feita pelos próprios bolsonaristas mais virulentos.

O bolsonarismo meteu medo em parte do eleitorado indeciso. A outra parte, que mesmo assim votou nele, deve, agora, estar impactada pela derrota moral do presidente e parte de seus seguidores.

Isso tem muito mais peso e será muito mais eloquente do que a estreita diferença de votos, depois de descontados os 50% mais um.

Derrotas eleitorais são do jogo jogado. Derrotas morais maculam, politicamente, por muito mais tempo.

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